quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

SÃO MESMO AS PESSOAS, ESTÚPIDOS!

Em 1992, James Carville escreveu para a campanha de Clinton contra Bush a célebre frase "é a economia, estúpido".
Hoje, também é a economia, mas acima da economia estão as pessoas - pessoas reais...
Henrique Monteiro (www.expresso.pt)

O ano de 2010 deve ser dominado pela economia. Se acaso for pela política, pior para todos. E deve ser dominado pela economia porque o problema do qual dependem todos os outros está na economia.

Infelizmente, a discussão económica tornou-se, em Portugal, distante das pessoas. Fala-se de défice, endividamento, produtividade como se nada disso tivesse que ver connosco, com a nossa vida. Mas tem - e muito.

Durante uma década pagámos cada vez mais impostos para um país que se distanciou da média europeia. O falhançofoi de todos, porque todos pagámos.

Nestes dez anos, dois primeiros-ministros (Barroso e Sócrates) prometeram que não aumentariam os impostos que nos cobram e ambos não cumpriram a promessa. Apesar de grave, a quebra da palavra pareceu lógica. O país, disseram-nos, precisava de equilibrar as contas, porque as contas estavam péssimas.

Nós concordámos e, provavelmente, vamos ter de concordar outra vez em 2010.

De facto, todos os economistas dizem que só há um meio de equilibrar as contas do Estado. Esse meio é - ó novidade! - cobrar mais impostos. E apesar das sucessivas proclamações em como nenhum imposto adicional será cobrado, quanto apostam que vamos pagar mais?

As contas do Estado assim o exigem, mas a conta das pessoas reais, das famílias reais, começa a não ter dinheiro para sustentar o Estado, os boys, os penduras, os subsidiodependentes.

Pode haver - e certamente há - muitas razões técnicas para tudo isto. Temos a segurança social que precisa de dinheiro, temos a Saúde, que não tem preço, temos as Scut, temos inúmeras despesas feitas e por fazer, justas e injustas, necessárias e desnecessárias e todas elas precisam de dinheiro.

Mas temos as pessoas reais, em nome das quais se faz a política. E essas pessoas reais, como nós, estão exauridas. Pagaram e vão pagar mais contribuições, sem ver - como não viram ao longo destes dez anos - progresso que condiga com o esforço feito.

A dívida do país já vai levar mais de 50 anos a pagar. Empenhámos a nossa geração, a dos nossos filhos e a dos nossos netos. E ao longo dos anos o Estado tem gasto cada vez mais. Já não é o monstro de que falava Cavaco (e que em parte foi criado por ele) é uma calamidade que nos toca a todos, os vivos e os por nascer.

No próximo Orçamento estaremos, mais uma vez, prontos a pagar, mas não creio que haja condições para mais uma década como esta que vivemos: perdida, totalmente desperdiçada num quase nada que nos custou tanto. E com os líderes do país a fazer o contrário do que prometeram.

Henrique Monteiro

Texto publicado na edição do Expresso de 31 de Dezembro de 2009

Sem comentários:

Enviar um comentário